Noite calma, às duas da madrugada de 27 de maio de 2025, com medo de esquecer até de manhã o título do artigo-coluna que veio na cabeça de repente, começo a escrever dentro de um hospital em Santa Cruz do Sul. São os tempos pessoais cheios de problemas, mas profundamente ligados aos problemas do mundo.
Roço os dedos no antebraço e dou-me conta que a faixinha de identificação, já toda amassada, da 17ª Conferência Nacional de Saúde, acontecida em Brasília de 2 a 5 de julho de 2023, com o tema ‘Garantir direitos e defender o SUS, a vida e a democracia – Amanhã vai ser outro dia’, ainda está viva e presente, junto com as faixas de identificação da internação hospitalar.
Os tempos estão difíceis em muitos sentidos, mas é fundamental resistir. Como dizia no seu tema a Conferência de Saúde de quase dois anos atrás, fundamental naquele momento da história brasileira e da participação social e popular nas políticas públicas.
GARANTIR DIREITOS: nada mais justo, urgente e necessário, lembrando da população mais pobre, da população de rua, da população negra, do povo LGBTQIA+, de recicladores e recicladoras, dos indígenas, das (os) moradoras (es) das periferias, e de trabalhadoras e trabalhadoras do Brasil, da América Latina, Caribe e mundo.
DEFENDER O SUS: Por estes dias, o clamor é geral. Os hospitais e as unidades básicas estão todos-as superlotados (as), as pessoas, os mais pobres entre os pobres, ao contrário do meu caso, sem conseguir pagar do seu bolso o atendimento, esperando em filas por horas e muitas vezes nem são atendidas. O Sistema Único de Saúde (SUS) é uma conquista histórica da luta das (os) militantes, mas muitas vezes não tem conseguido dar conta das enormes urgências e necessidades.
GARANTIR A VIDA: A vida das mulheres corre risco todos os dias, com dezenas de feminicídios, os jovens perdem sua vida, a vida está em perigo por todos os lados, com e sem saúde.
GARANTIR A DEMOCRACIA: Não é só no Brasil, é no Oriente Médio, é na Ásia, em diferentes países da América Latina e Caribe, na África. A democracia está correndo sério risco, está ameaçada de morte pela ultradireita e pelo ultraneoliberalismo.
AMANHÃ VAI SER OUTRO DIA: Eu, um sempre franciscano e militante da vida e da boa luta, permaneço muitas vezes na dúvida e na incerteza ante tanta loucura e insanidade acontecendo no mundo, ameaçando o povo, destruindo espaços democráticos. Mas todo dia amanhece, o sol brilha e assim será amanhã, ou depois de amanhã, com a paz, a igualdade, a soberania, a justiça social, o pão na mesa de todas e todos, a democracia em pleno vigor.
DORMIR POUCO: Mas dormir de olhos, coração e espírito sempre abertos, mesmo na madrugada, sem saber bem como vai ser o dia seguinte, qual o futuro que espera a humanidade.
SONHAR MUITO: E sempre, com Formação na Ação, todos os dias, fé e coragem, envolvendo famílias, comunidades, Pastorais sociais, movimentos populares.
Só temos uma vida.
Não é tempo de dormir,
mas é tempo de sonhar.
É tempo de abrir os olhos,
é tempo de refletir,
é tempo de esperançar.
O tempo é feito de dias, noites, madrugadas,
cansaços e ternura.
Cada dia é um novo dia,
cada dia é solidariedade,
cada dia é olhar para frente.
Não se joga fora a noite.
A noite é de trocar ideias,
de olhar a lua,
de irar as estrelas,
de dar a mão para outra mão
que está do lado, junto, abraçada.
É preciso paz, com urgência.
É preciso fraternidade.
Os abraços chegam com força,
As palavras umedecem o cotidiano.
AMANHÃ VAI SER OUTRO DIA!
*Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil do Fato.