O domingo (25) foi o Dia Nacional da Indústria, e o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aproveitou a data para fazer um balanço de políticas públicas para o setor. Reindustrializar o país é uma promessa de campanha de Lula e, por isso, em 2024, seu governo lançou o programa Nova Indústria Brasil (NIB).
Segundo economistas ouvidos pelo Brasil de Fato e estatísticas oficiais, o NIB, de fato, tem dado resultado. Em 2024, a produção industrial brasileira cresceu 3,1%, a terceira maior expansão registrada nos últimos 15 anos.
Só a indústria de transformação, aquela que está mais diretamente ligada à produção de bens de consumo, cresceu 3,8% em 2024, a maior expansão em 14 anos. A indústria automobilística do Brasil foi a que mais cresceu no mundo no ano ado, e a indústria brasileira como um todo cresceu mais que a média mundial.
De acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), desde 2023, a indústria gerou 585 mil empregos com carteira assinada no Brasil. Contribuiu, portanto, para que o país atingisse seu menor nível de desemprego da história, nos últimos meses de 2024.
“Há indiscutivelmente uma retomada da indústria, que vinha se deteriorando desde o início da crise econômica, ainda em 2014. A produção física, desde que o Lula assumiu, já cresceu 5%. Ainda é um patamar muito menor do que no seu auge, entre 2007 e 2014. Mas é uma retomada”, disse Eric Gil Dantas, economista do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais (Ibeps).
Weslley Cantelmo, presidente do Instituto Economias e Planejamento, confirma o bom momento, que liga diretamente ao NIB, que tem oferecido empréstimos com condições especiais para incentivar a indústria.
De acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), até 2026, R$ 500 bilhões serão emprestados por meio do NIB.
Selic freia retomada
Cantemo e Dantas, contudo, lembram que essa retomada está ameaçada pelo aumento da taxa básica de juros da economia nacional. Por decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), a Selic chegou a 14,75% ao ano neste mês, o que encarece o financiamento e ainda desincentiva o investimento.
“A Selic em alta gera um cenário de maior cautela no investimento produtivo porque o investimento em renda fixa, no banco, acaba ficando mais atrativo”, explicou ele.
Dantas disse que a taxa de investimento brasileiro com relação ao seu Produto Interno Bruto (PIB) ainda é pequena: 17%. Já chegou a ser 20%, lembrou ele. Para ele, isso precisa ser retomado. Mas, com a Selic neste patamar, é praticamente impossível.
“Com certeza Lula deve lamentar que a sua nomeação para o BC esteja tornando a meta de reindustrialização do país algo tão difícil”, afirmou. “Gabriel Galípolo [presidente do BC indicado por Lula] já deixou claro que irá manter essa taxa de juros em patamares elevados por um bom tempo, o que deve frear o processo de investimento nesta segunda metade do mandato do Lula.”
Modernizar para competir
José Luis Oreiro, economista e professor da Universidade de Brasília (UnB), afirmou que, após décadas de maus resultados, a indústria brasileira precisa se modernizar para poder competir com a de outros países. Segundo ele, a idade média do parque industrial brasileiro é de 20 anos e, portanto, está defasado.
Viabilizar investimentos por meio de juros baixos seria crucial para a modernização, assim como manter uma taxa de câmbio estável.
“O Brasil tem que adotar um modelo de promoção de exportação de manufaturados. Para isso, a gente precisa investir na modernização tecnológica do parque industrial”, afirmou ele. “A volatilidade cambial é péssima para o investimento na indústria de transformação. Um empresário precisa ter previsibilidade em termos do comportamento da taxa de câmbio.”
Na semana ada, o governo federal anunciou mudanças no Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) que tendem a reduzir o sobe e desce do dólar no Brasil.