Foz do Iguaçu se prepara para celebrar, no próximo domingo (2), a 49ª Festa de Iemanjá, data sagrada para praticantes das religiões de matriz africana. O evento, que acontece desde 1976 na cidade, reúne lideranças e filhos de santo de terreiros do Brasil, Paraguai e Argentina em uma grande homenagem à divindade das águas.
A celebração terá início às 13h, com a concentração na Praça da Paz. De lá, às 13h30, sairá uma carreata pelas principais avenidas da cidade, ando pela Avenida Juscelino Kubitschek, República Argentina e Avenida Brasil, até chegar ao Porto de Areia, no bairro Porto Meira. Durante o percurso, cânticos e atabaques guiarão os participantes em louvor à orixá.
No Porto de Areia, às 14h30, os presentes embarcarão no Kattamaran para a tradicional procissão fluvial, que começará às 15h. O trajeto pelos Rios Paraná e Iguaçu inclui uma parada simbólica na Ponte Internacional da Fraternidade, que liga Brasil e Argentina. Neste momento, os motores do barco serão desligados para que os devotos possam fazer preces e oferendas a Iemanjá. “É um momento muito sagrado e emocionante. Ali, ao som de cantigas e rezas, colocamos os presentes que ela mais gosta: águas de cheiro, alfazema, flor de laranjeira. Também soltamos pombos brancos, pedindo paz não só para esta cidade, mas para o mundo inteiro”, explica a Iarolixá Mãe Amanda Vieira, organizadora do evento.
A celebração em Foz do Iguaçu foi iniciada por Mãe Benedita de Souza, pernambucana que chegou à cidade em 1974 e fundou um terreiro de Umbanda e Jurema. Dois anos depois, realizou a primeira procissão em homenagem a Iemanjá, marcando o início de uma tradição que se mantém viva até hoje. A gruta construída por ela às margens do rio continua sendo ponto de referência e devoção para os filhos de santo.
Mãe Benedita de Souza / Foto: acervo pessoal
“Essa festa é muito importante para o nosso povo de axé. Foi Mãe Benedita quem começou tudo isso e, quando ela partiu, eu assumi a responsabilidade de dar continuidade a essa celebração, sempre com muita emoção e respeito”, afirma Mãe Amanda. Ela destaca ainda a contribuição de Pai João Carlos de Odé, que por anos organizou o evento ao lado da fundadora e, hoje, tem sua casa de axé preservada pelos seguidores da tradição.
Em 2023, a Festa de Iemanjá ou a integrar o calendário oficial do município de Foz do Iguaçu, reconhecimento considerado uma grande conquista para as religiões de matriz africana. “Isso foi uma vitória muito grande para o povo de axé”, celebra Mãe Amanda.
O evento conta com apoio da Fundação Cultural, Prefeitura de Foz do Iguaçu, Itaipu Binacional, Parquetec e outras instituições. A organização disponibilizará ônibus para transportar os participantes da Praça da Paz até o Porto de Areia e vice-versa. “Ano ado foram dois ônibus refrigerados, e este ano conseguimos mais um. Essa ajuda é fundamental para garantir que todos possam participar”, explica a Iarolixá.
Por questões de segurança, a embarcação tem capacidade limitada a 200 pessoas. No entanto, muitos adeptos acompanham a celebração da margem do rio, rezando e fazendo oferendas. “Tem gente que vem de Puerto Iguazú (AR), de Assunção, do Paraguai. Iemanjá é conhecida no mundo todo. Ela é a grande mãe, protetora das famílias, aquela que traz equilíbrio, inteligência, paciência e amor fraterno”, afirma Mãe Amanda.
A devoção transcende barreiras religiosas. “Tem muitas pessoas que não são do candomblé, nem da umbanda, mas que sentem um grande respeito por Iemanjá. Elas comparecem, fazem suas preces e saem emocionadas. É um momento de fé e conexão com a nossa mãe das águas”, conclui.
*Bruno Soares é repórter freelancer com foco em Política, Direitos Humanos, Meio Ambiente, e Segurança Pública. Acredita na função social do jornalismo e faz disso sua militância. Vive na tríplice-fronteira, em Foz do Iguaçu.
