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Religião e política

A força histórica dos pobres e oprimidos: uma reflexão sobre a Teologia da Libertação

Teólogo explica as origens e a importância de um movimento religioso dirigido à libertação dos mais vulneráveis

16.fev.2024 às 19h40
Atualizado em 17.fev.2024 às 19h40
Petrópolis (RJ)
Leonardo Boff ()

Leonardo Boff - Reprodução

Sempre me impressionou uma pequena história relatada no livro do Eclesiastes do Primeiro Testamento (ou o Antigo). O Eclesiastes se assume como sendo o sábio rei Salomão. Seria o que chamaríamos hoje um acadêmico ou um professor universitário (em hebraico Qohelet). É conhecido pela expressão "vaidade, pura vaidade; tudo é vaidade" (Eclesiastes 1,2). Algumas traduções modernas traduzem: "ilusão, pura ilusão; tudo é ilusão". 

Todo livro é uma busca incansável pela felicidade, mas se confronta com a morte inevitável que torna todas as buscas ilusões, puras ilusões. Nem por isso deixa de ser temente a Deus e ético ao se indignar face às opressões: "quantas são as lágrimas dos oprimidos sem ninguém que os console quando estão sob o poder dos opressores… feliz é aquele que não chegou a nascer porque não viu a maldade que se comete debaixo do sol" (Eclesiastes 4,1.3).

A pequena história reza assim:

"Havia uma cidade de poucos habitantes. Um rei poderoso marchou sobre ela, cercou-a e levantou contra ela grandes rampas de ataque. Havia na cidade um homem pobre, porém sábio, que poderia ter salvo a cidade com sua sabedoria. Mas ninguém se lembrou daquele homem pobre. A sabedoria do pobre é desprezada e suas palavras nunca são ouvidas" (Eclesiastes  9,14-16).

Essa constatação me remete à teologia latino-americana da libertação. É uma teologia cujo eixo articulador é a opção não excludente pelos pobres e por sua libertação. Ela confere centralidade aos pobres como está no evangelho do Jesus histórico: "felizes os pobres porque de vós é o Reino de Deus" (Lucas 6,20).

Mas há algo de inédito na Teologia da Libertação. Ela supera o assistencialismo e o paternalismo tradicionais, que faziam caridade para com os pobres mas os deixavam em sua situação de pobres.

A Teologia da Libertação acrescentou algo singular: reconhecer a força história dos pobres. Eles começaram a se conscientizar de que sua pobreza não é desejada por Deus, nem é natural, mas consequência de forças sociais e políticas que os exploram para se enriquecer à custa deles, assim os tornando pobres. Então não são simplesmente pobres, são oprimidos.

Contra toda opressão, vale a libertação. Conscientizados deste fato e organizados, constituem-se forças sociais capazes de mudarem a sociedade para que seja melhor, não tão injusta, opressora e desigual.

Os cristãos se inspiraram na tradição do Êxodo ("ouvi o clamor de meu povo oprimido, desci para libertá-lo", Exôdo 3,7), naquela dos profetas que, contra os opressores dos pobres e das viúvas, denunciavam as elites dominantes e os reis (Isaías, Amós, Oséias, Jeremias), fazendo Deus dizer: "quero misericórdia e não sacrifícios; procurai o direito, corrigi o opressor, julgai a causa do órfão e defendei a viúva" (Isaías, 1,17). Mas principalmente na prática do Jesus histórico, que claramente estava sempre do lado da vida sofrida, especialmente dos pobres, dos doentes, dos marginalizados, das mulheres, curando e exercendo uma prática verdadeiramente libertadora dos padecimentos humanos. Anunciava-lhes o projeto de Deus, uma revolução absoluta: um reino de amor, de paz, de perdão, de compaixão e também de domínio sobre a natureza rebelada.

Esta é a base da teologia da libertação. Marx não foi nem pai nem padrinho deste tipo de teologia, como muitos ainda hoje a acusam. Ela se fundamenta na tradição profética e da prática do Jesus histórico. Não esqueçamos que ele foi julgado, condenado e erguido numa cruz pelos religiosos do seu tempo, associados ao poder político romano. Por causa da liberdade que se tomava face à leis opressoras e a uma imagem de um Deus vingador. Tudo colocou sob o crivo do amor e da misericórdia. Rompia com costumes e tradições que oneravam a vida de todo um povo.

A Teologia da Libertação deu um voto de confiança aos pobres, considerando-os protagonistas de sua própria libertação e atores na sociedade como a nossa, que cria mais e mais pobres e vergonhosamente os despreza e relega à marginalidade. Uma estrutura social que se funda sobre exploração, competição e depredação irresponsável da natureza, e não sobre a solidariedade.

A experiência que fizemos é exatamente aquela contada no livro do Eclesiastes: os pobres são sábios, nos ensinam, pois seu saber é de experiências feito. Fazemos uma troca de saberes entre o científico e o experiencial, e assim somamos forças. Descobrimos que quando se organizam em comunidades, em movimentos, e como cidadãos participam de partidos que buscam a justiça social, revelam sua capacidade de pressão e até de impor transformações.

Mas quem dos políticos nos parlamentos, quais os poucos governos que os escutam e atendem a suas reivindicações? Geralmente só olham para eles quando há eleições, para seduzi-los para seus projetos, geralmente, fictícios.

Conto, não sem certo constrangimento, o que ocorreu comigo. O grande filósofo e jurista Norberto Bobbio da Universidade de Turim quis honrar a Teologia da Libertação, concedendo-me o título de doutor honoris causa em política. Setores do Vaticano e o Cardeal de Turim fizeram forte pressão para que esse evento não acontecesse, o que irritou sobremaneira o filósofo-jurista Bobbio.

O evento aconteceu com a presença dele, já velhinho e adoentado. O diploma universitário dizia: "a personalidade do franciscano Leonardo Boff se destaca seja na pesquisa em ciências políticas e teológicas, seja no empenho ético e social. Seus escritos e sua reflexão, altamente originais e movidos por paixão cívica, estão no centro de um debate político e eclesiástico fervoroso no mundo contemporâneo". No dia 27 de novembro de 1990, me foi concedido o título.

Noberto Bobbio ficou tão impressionado com a aula magistral que dei como agradecimento ao título, que comentou: "Nós, da esquerda, devíamos esperar de um teólogo para nos lembrar que os pobres são sujeitos da história". 

Para mim era a confirmação da verdade da história do Eclesiastes: temos que ouvir os pobres (por causa deles me honraram com o título) que antes de ler as letras, leem mundo com acerto. Sem a sabedoria deles e dos povos originários não salvaremos nossas sociedades e também não evitaremos a catástrofe de nossa civilização.

*Leonardo Boff escreveu "Brasil: concluir a refundação ou prolongar a dependência" (Vozes 2018) e "A busca da justa medida: como equilibrar o planeta Terra" (Vozes 2023).

** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Editado por: Matheus Alves de Almeida
Tags: leonardo boffteologia da libertação
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