Os dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), realizada pelo IBGE e pelo Ministério da Saúde e divulgados no último mês de abril, podem ter ado um tanto desapercebidos, no entanto, são reveladores. Especialmente no que se refere ao tipo e quantidade de alimentos adquiridos pelas famílias brasileiras. O arroz, o feijão e a farinha, bases de nossa alimentação cotidiana, tiveram o consumo diminuído consideravelmente. A pesquisa aponta que em 2003 o consumo per capita anual desses alimentos girava em torno de 52 kg, ao o que em 2018 era de 28 kg.
Alimentos tradicionais na dieta alimentar dos brasileiros tiveram quedas significativas nos últimos 15 anos, para exemplificar: feijão (queda de 52%), arroz (queda de 37%), macarrão (queda de 27%), panificados (queda de 23%), carne (queda de 21%). Tiveram aumento no consumo o frango e o ovo, 56% e 94% respectivamente. O que pode explicar essa mudança repentina nos hábitos alimentares, a queda do poder aquisitivo é um dos fatores, mas também o forte lobby dos impérios alimentares.
A pesquisa confirma que os hábitos alimentares variam conforme o bolso, segundo o critério adotado pelo IBGE, classificou-se como pobres aquelas famílias que possuem renda de até 2 salários mínimos e ricas as famílias com renda superior a 15 salários mínimos. Ou seja, segundo esse critério temos quase ¼ da população na faixa da pobreza. Caso tomássemos por base a pesquisa da OXFAM os dados seriam ainda mais desalentadores, segundo a ONG, no país, aproximadamente 80% das famílias têm renda per capita inferior a 2 salários mínimos.
A diferença entre o tipo e a quantidade de alimentos adquiridos pelas famílias da base da pirâmide social e pelo andar de cima é abissal, em alguns casos mais que o dobro. O consumo por pessoa da base da pirâmide gira em torno de 199 kg de alimentos/ano, enquanto que uma pessoa considerada rica consome em média 429 kg de alimento/ano.
A tabela abaixo explica em números a diferença significativa no consumo entre as famílias pobres e ricas:
Essa tabela explica em números a diferença significativa no consumo entre as famílias pobres e ricas / Divulgação
Nota-se que em alguns casos a diferença atinge percentuais exorbitantes, como: laticínios (176% maior), hortaliças (187% maior), bebidas e infusões (250% maior), frutas (313% maior), processados e ultraprocessados (688% maior). Importante ressaltar que em alguns (poucos) alimentos a relação é inversa: vísceras (46% menor), cereais e leguminosas (27% menor) e pescados (4% menor).
Outro fato que chama a atenção na pesquisa é que a participação de alimentos in natura e minimamente processados foi maior
no meio rural do que no meio urbano (57,9% contra 47,7% das calorias totais), relação direta com a produção e disponibilidade de uma alimentação mais balanceada e saudável.