O Ministério da Saúde anunciou que pediu estudos para avaliar a possibilidade de incluir a vacina contra o herpes-zóster no Plano Nacional de Imunização (PNI), o que vai proporcionar a oferta gratuita do imunizante no Sistema Único de Saúde (SUS). Atualmente, as doses só estão disponíveis na rede privada, com custo que pode chegar a R$ 2 mil pelas duas doses necessárias.
Embora o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, tenha destacado a inclusão como uma prioridade da pasta, o processo para que a substância chegue aos postos de saúde não é automático e depende de vários os. As etapas seguem critérios que garantem segurança, logística e outros detalhes importantes, como público alvo, preço e disponibilidade.
O início desse fluxo começa na identificação da demanda e na solicitação de avaliação por parte do governo, ou até mesmo por pessoas físicas ou jurídicas que observem a necessidade de oferta do imunizante no PNI. A solicitação é encaminhada à Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) para análise técnico-científica aprofundada.
“Vamos torcer para que todo esse processo, que já está na CONITEC, consiga ser resolutivo e que essa proteção venha de forma gratuita, gerando equidade”, afirma a médica infectologista Gabriela Camargo, em entrevista ao podcast Repórter SUS. Segundo ela, a vacina tem potencial de reduzir em mais de 90% as manifestações mais graves da doença.
Na conversa, a especialista explica que, recentemente, a rede privada brasileira ou a oferecer o imunizante com vírus inativado, que tem uma eficácia maior e causa menos efeitos colaterais. Além de reduzir os casos, ela atua diretamente na redução de complicações como a Neuralgia Pós-Herpética (NPH), que causa dores intensas por meses ou até anos, mesmo depois que as bolhas do herpes-zóster cicatrizam.
“É uma ferramenta que eu considero fundamental na prevenção, principalmente da morbidade e do sofrimento relacionado à doença por conta das complicações. Se conseguirmos a vacina pelo SUS, vai ser um caminho enorme na proteção de forma gratuita. Seria incrível e há uma luta muito forte para isso.”
Na primeira etapa, a Conitec realiza avaliações da eficácia, segurança e custo-efetividade da vacina para a população brasileira, com a intenção de determinar se a incorporação é justificável. Paralelamente, também é feita uma análise econômica, que verifica a viabilidade dessa inclusão dentro dos recursos existentes no SUS, considerando custos de aquisição, aplicação e logística.
É também ao longo desse processo que começa a articulação e alinhamento entre a União, estados e municípios. O objetivo é entender como a substância em estudo poderá ser disponibilizada e aplicada em larga escala. Isso significa que as diferenças geográficas, materiais e sociais de cada região também precisam ser avaliadas para garantir a disponibilização e o armazenamento nos postos de saúde de todo o território nacional.
A Conitec tem um prazo de 180 dias para chegar a uma decisão, prazo que pode ser prorrogado por mais 90 dias. Após a recomendação, o processo inclui uma fase de consulta pública, que proporciona contribuições da sociedade por cerca de 20 dias. A decisão final só acontece após a conclusão dessas análises e da etapa que garante a participação social.
Todo esse processo costuma levar em torno de um ano ou mais, a não ser em casos excepcionais de emergências. Um exemplo foram as aprovações das primeiras vacinas contra a covid-19, que agilizaram pesquisas anteriores sobre o coronavírus para conseguir dar uma resposta rápida à gravidade da pandemia. No caso da herpes-zóster, a vacina deve chegar ao SUS em 2026, seguindo o padrão de condições sanitárias normais.
Que doença é essa?
Popularmente conhecida como cobreiro, a herpes-zóster é uma doença causada pelo Vírus Varicela-Zóster (VVZ), o mesmo microrganismo responsável pela catapora. Após a infecção inicial, geralmente na infância, ele não é eliminado do organismo, mas permanece inativo, principalmente em tecidos nervosos. Anos depois, esse vírus pode ser reativado.
O processo ocorre principalmente em situações de baixa imunidade, mais comuns na idade adulta, especialmente acima de 60 anos. Por isso, a doença pode se manifestar até muitas décadas após a catapora. Quem tem comprometimento imunológico devido a problemas crônicos, pessoas transplantadas ou que usam medicamentos imunossupressores também são mais suscetíveis à reativação.
Geralmente, os sintomas iniciais da herpes-zóster são dores, sensação de formigamento ou agulhadas, ardor e coceira na área afetada, além de febre, dor de cabeça e mal-estar geral. Em seguida, surgem lesões na pele, caracterizadas por bolhas sobre uma área avermelhada. As erupções normalmente seguem o trajeto de um nervo e aparecem com mais frequência no tronco.
As lesões evoluem para crostas e geralmente cicatrizam em duas a quatro semanas, a menos que haja infecção secundária. No entanto, a doença pode trazer complicações sérias. Um exemplo são as dores da neuralgia pós-herpética. Mas, além delas, a herpes-zóster pode levar a complicações oculares, danos neurológicos e infecções bacterianas secundárias nas lesões.
Em casos de imunossupressão, a doença pode se disseminar pelo corpo. Situações gravíssimas podem levar à síndrome de Reye, uma doença que causa inflamação no cérebro e oferece riscos altos para crianças. Entre 2015 e 2024, o Brasil registrou mais de 300 mil casos de varicela, o que reúne tanto manifestações de catapora quanto de herpes-zóster.