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EUA, lítio e Elon Musk: o que está em jogo nas eleições da Bolívia

Especialista alerta para influência estrangeira, principalmente dos EUA, nos rumos políticos do país

Na corrida rumo as eleições presidenciais na Bolívia – o primeiro turno ocorre em agosto, o segundo, em outubro – cresce a influência estrangeira nos rumos políticos do país, especialmente dos Estados Unidos. Em entrevista ao podcast O Estrangeiro, do Brasil de Fato, Amanda Harumy, doutora pelo Programa de Integração da América Latina da USP (Prolam), destaca que a interferência em pleitos latino-americanos “já é uma decisão anunciada pelo governo Trump e pelas Big Techs”. Segundo ela, o golpe de 2019, que derrubou Evo Morales, é exemplo claro dessa ingerência de olho nos recursos naturais bolivianos, como o lítio.

Harumy relembra a declaração feita por Elon Musk em 2020, quando o dono da Tesla e do X (ex-Twitter), disse em sua rede social: “Vamos dar um golpe em quem quisermos. Lide com isso.” Na época, a fala foi interpretada como uma issão velada do interesse econômico das potências sobre o lítio boliviano, mineral essencial para a indústria de carros elétricos e outros setores de alta tecnologia. “Nos recordamos do golpe de Estado, ele foi muito marcado por essa influência, inclusive explícita do Elon Musk em relação ao interesse das riquezas naturais”, afirma a especialista.

Ela ressalta ainda que o atual cenário global de transição energética elevou a importância dos chamados minerais raros, colocando a Bolívia no centro das disputas econômicas. “Existe um mercado em ascensão que depende do lítio desde uma perspectiva dos carros elétricos e outros setores da inovação. […] O que é muito triste é que esse poderia ser um cenário de autonomia, de soberania, da América Latina apresentar um projeto de integração regional”, lamenta.

O correspondente do Brasil de Fato Lorenzo Santiago reforça a relevância geopolítica da Bolívia ao lembrar que o país abriga a maior reserva de lítio do mundo: cerca de 21 milhões de toneladas cúbicas. “É onde está o Salar de Uyuni, ao sul da Bolívia, e essa tem sido a principal busca dos Estados Unidos hoje na disputa pelos carros elétricos”, indica. Segundo Santiago, os estadunidenses pressionam para estabelecer uma indústria de extração de lítio na região, em um embate direto com a presença chinesa no setor.

“Quando Evo foi presidente, ele inaugurou a primeira planta de extração de lítio, mas até agora só funciona uma planta no país, que extrai cerca de 2 mil toneladas por ano. É muito pouco, a Bolívia ainda não consegue extrair [o suficiente], e o lítio tem sido uma das principais críticas do Evo Morales ao presidente Luiz Arce”, acrescenta o jornalista.

Apoiadores de Evo Morales têm protagonizado manifestações na Bolívia, pedindo a renúncia do presidente Luís Arce, e reivindicando a candidatura do líder cocalero para as eleições presidenciais de agosto. Foram registrados confrontos em diferentes partes do país.

O podcast O Estrangeiro vai ao ar toda quarta-feira às 11 horas no Spotify e YouTube.



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