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Joana Tavares é jornalista, militante por um projeto popular para o Brasil e adora comunicação popular, cachorros, boas perguntas e conversa fiada.

Minha experiência de gestar pelo SUS Belo Horizonte

Meu desejo é que meu parto, que também será no SUS, seja humano e feliz como o meu pré-natal

Por Rafaella Dotta

Aos 32 anos descobri que teria minha primeira gestação. O novo traz o seu quê de ansiedade e incerteza, mas, desde o primeiro momento, procurei o meu caminho da roça para começar o pré-natal: o Centro de Saúde Santa Inês, em Belo Horizonte, do SUS.

Eu já conhecia o posto, mas nunca tinha feito um acompanhamento de longa duração, como seria o pré-natal. Eu estava com 12 semanas de gestação, o que me daria seis meses pela frente sendo acompanhada por aquelas e aqueles profissionais. Não vou negar que os relatos de violência obstétrica assustam (e muito), mas, apreensão guardada no bolso, bora começar.

O primeiro contato foi com uma enfermeira para uma triagem. Ela fez as primeiras perguntas sobre a gestação, como tempo, doenças minhas e da família, e uma pequena conversa sobre minhas expectativas. Esse contato foi superimportante, pois foi ela quem cuidou de acompanhar como estava a periodicidade das minhas consultas durante toda a gestação.

Saí com a primeira consulta marcada com o médico ginecologista do posto. Era hora de encarar um homem, o primeiro desde que tinha começado o pré-natal.

Preocupação

Compareci sozinha. Meu companheiro, Johnatan, não poderia me acompanhar dentro do consultório, nem dentro do posto, por restrições da pandemia de covid-19. De fato, naquele mês, o centro de saúde estava lotado com mais uma onda de contaminações do coronavírus.

Tratei de ficar de orelha em pé. Atenta a alguma situação que eu precisasse me posicionar, demarcar, reagir. Mas nada disso foi preciso. A atenção e a tranquilidade do médico exterminaram esse meu medo.

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“Oi! Aqui você vai ter todo o tempo que precisar”. Essa foi a primeira coisa que ele me disse. E conversamos sobre a primeira gestação, sobre peso, sobre gatos, sobre yoga, sobre quando procurar um hospital ou não. Ufa!

Checape

Saí do consultório respirando melhor e com o pedido de uns 15 exames, entre sangue e urina, e de algumas vacinas. Na recepção do posto me informaram o dia da coleta e me encaminharam para a sala de vacinação. Fiz um checkup enorme e melhor, sem gastar nada. Tudo coberto por esse incrível plano de saúde chamado SUS!

Os resultados saíram em cerca de uma semana, com o online.

Me irei, sinceramente. Como um pequeno centro de saúde – com uma equipe reduzida e sobrecarregada pela pandemia da covid, e com o bônus das instalações estarem em reforma – conseguiu me dar uma atenção tão integral? Comecei entender ali o sentimento da frase que tantas pessoas têm o brio de pronunciar: “fiz tudo pelo SUS”. Pois eu, também, e orgulhosamente, fiz tudo pelo SUS.

Delicadeza

Nas idas e vindas às consultas, um problema se abateu. O ginecologista precisaria tirar uma licença. Isso dava um intervalo de aproximadamente três meses e eu chegaria ao final da gestação sem acompanhamento. No posto, me disseram que “iam ver” o que fazer. Fiquei naturalmente apreensiva. Não fazia ideia de como continuar o pré-natal.

Uma semana depois, aquela enfermeira que fez a minha triagem (lembra?), me ligou informando que eu seria atendida pelo outro médico do posto. E assim foi.

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Durante todo o pré-natal, essa profissional me ligou diversas vezes, ou pediu que alguém ligasse, sempre acompanhando minhas datas de consulta para que tivessem a periodicidade certa. Confesso que me embolei e nesses momentos foi ela que cuidou do meu calendário pré-natal, me encaixou nas agendas dos médicos, me liberou um dia de exames que não estava marcado.

Klênia tem minha eterna gratidão. E não só ela. As demais profissionais do posto sempre fizeram questão de garantir a prioridade à gestante aqui (me desculpem, velhinhos!) e a me ajudar nas burocracias. Confesso, me senti uma rainha.

Eu sentava nas cadeirinhas do posto e olhava com iração aquelas profissionais trabalhando, chamando os pacientes mais assíduos pelo nome, dando bom dia a todo mundo. Ir ao posto de saúde não era mais apreensivo, como no começo, era agora muito prazeroso.

Estamos quase

Me despeço do meu pré-natal “feito todo pelo SUS” com minha gestação em 38 semanas. Tenho minha última consulta já marcada e aguardo o resultado da última série de exames pedida pelo médico. Meu desejo é que meu parto, que também será no SUS, seja humano e feliz como o meu pré-natal, e que muitas mulheres possam ter uma experiência parecida.

Obrigada ao nosso Sistema Único de Saúde e vida longa aos nossos profissionais da saúde!

 

Rafaella Dotta é usuária do SUS Belo Horizonte e jornalista do Brasil de Fato MG.

Este é um artigo de opinião e a visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal

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