Mostrar Menu
Brasil de Fato
ENGLISH
Ouça a Rádio BdF
  • Apoie
  • TV BdF
  • RÁDIO BRASIL DE FATO
    • Radioagência
    • Podcasts
    • Seja Parceiro
    • Programação
  • Regionais
    • Bahia
    • Ceará
    • Distrito Federal
    • Minas Gerais
    • Paraíba
    • Paraná
    • Pernambuco
    • Rio de Janeiro
    • Rio Grande do Sul
  • I
  • Política
  • Internacional
  • Direitos
  • Bem viver
  • Opinião
  • DOC BDF
Nenhum resultado
Ver todos os resultados
Mostrar Menu
Brasil de Fato
  • Apoie
  • TV BDF
  • RÁDIO BRASIL DE FATO
    • Radioagência
    • Podcasts
  • Regionais
    • Bahia
    • Ceará
    • Distrito Federal
    • Minas Gerais
    • Paraíba
    • Paraná
    • Pernambuco
    • Rio de Janeiro
    • Rio Grande do Sul
Mostrar Menu
Ouça a Rádio BdF
Nenhum resultado
Ver todos os resultados
Brasil de Fato
Início Internacional

África Austral

Pandemia aprofunda crise política e econômica no Zimbábue

Oposição denuncia que país vive sob uma ditadura; cenário é marcado por sanções, inflação, greve de médicos e repressão

06.out.2020 às 18h26
São Paulo (SP)
Daniel Giovanaz

Emmerson Mnangagwa [centro] é acusado de intensificar a repressão em meio à pandemia - Jekesai NJIKIZANA / AFP

O ativista de direitos humanos zimbabuano Elvis Mugari está exilado na África do Sul desde janeiro de 2019, quando entrou na lista de procurados em seu país. O motivo: organizar uma manifestação pacífica contra o aumento do preço dos alimentos, dispersada após forte repressão.

“Os militares mataram sete pessoas, centenas foram presos, mulheres foram estupradas”, relata. O governo não reconhece esses números e afirma que as forças de segurança apenas reagiram à violência dos manifestantes.

Localizado no sul do continente africano, o Zimbábue vê a pandemia de covid-19 acirrar conflitos políticos iniciados há mais de duas décadas.

Cerca de 34% da população vive em extrema pobreza, e a inflação é superior a 300% – a segunda maior do mundo. A precarização das condições de vida dos trabalhadores ampliou a insatisfação com um governo pressionado antes mesmo da posse.

“O regime responde com mão pesada às demandas dos trabalhadores e nega a eles o direito de se engajar em ações trabalhistas, petições e manifestações. Eles estão sendo presos, sequestrados e atacados por pedirem melhores condições de trabalho”, descreve Mugari, enquanto reúne forças para “voltar e encarar o monstro de frente.”

Independente da Inglaterra desde 1980, o Zimbábue realizou uma ampla reforma agrária na década seguinte, redistribuindo 85% das terras do país. O chefe de Estado que liderou aquele processo, Robert Mugabe, pertencia à União Nacional Africana do Zimbábue – o mesmo partido do seu vice e sucessor, o atual presidente Emmerson Mnangagwa.


Marcha da oposição, em meio à pandemia, denuncia corrupção no governo Mnangagwa / Phill Magakoe / AFP

O Congresso dos Sindicatos do Zimbábue (ZCTU), maior central sindical do país, entende que o mandato de Mnangagwa é ilegítimo. Em novembro de 2017, uma semana após ter sido demitido do cargo de vice, ele ascendeu à presidência com apoio do exército, levando Mugabe à renúncia aos 93 anos.

A lista de críticas e acusações da ZCTU a Mnangagwa inclui corrupção, aparelhamento do Judiciário, perseguição a jornalistas e opositores e violações ao direito de associação dos trabalhadores. Este último aspecto foi endossado por Clément Nyaletsossi Voule, relator especial da ONU para o direito à reunião e associação pacífica.

“Violência estatal já existia durante o governo de Mugabe, mas a situação piorou. Mugabe usou a polícia, enquanto Mnangagwa usa tanto a polícia, quanto os militares e o Judiciário”, afirma o secretário geral da ZCTU, Japhet Moyo, que usa o termo ditadura para se referir ao atual governo. “Em dois anos como presidente, ele já acusou 17 sindicatos, ativistas de direitos humanos e ativistas da oposição de traição, enquanto Mugabe acusou quatro pessoas de traição em 40 anos.”

História

As décadas de 1970 e 1980 foram marcadas por guerras de libertação na África Austral – porção sul do continente – após séculos de dominação europeia. Em países como Zimbábue, Angola e Moçambique, a independência só foi consolidada após luta armada com os colonizadores.

“No Zimbábue houve guerra e, ao final, uma transição negociada, em que uma das condições fundamentais era a manutenção do regime de propriedade. Então, os fazendeiros brancos mantiveram sua terra”, lembra Paris Yeros, doutor em Relações Internacionais e professor da Universidade Federal do ABC (UFABC).

“Isso porque a África do Sul estava na escalada final de luta contra o apartheid, e se avaliou que o Zimbábue precisaria ‘maneirar’ um pouco para não causar conflitos desestabilizassem as negociações em curso no país vizinho.”

Assim que o apartheid terminou, em 1991, mudanças na estrutura fundiária voltaram à agenda de Mugabe, que havia assumido o poder em 1980. A reforma agrária, considerada a maior do período pós-Guerra Fria, concretizou-se na virada do século, obrigando fazendeiros brancos a entregarem suas propriedades a agricultores negros.

A notícia da redistribuição das terras no Zimbábue, sem a compensação requerida pelos ex-proprietários, ecoou no Ocidente como ameaça.

“Houve uma reação muito forte. O FMI [Fundo Monetário Internacional] e o Banco Mundial, obviamente, cortaram financiamentos. Em 1998, haviam começado as sanções militares, e o país já não conseguia mais comprar das fontes do Ocidente”, acrescenta Yeros.


Policial reprime manifestante durante protesto contra a corrupção e a deterioração da economia em agosto de 2020 / Phill Magakoe / AFP

Conflito estruturado

Em 2001, Estados Unidos e União Europeia iniciaram sanções econômicas unilaterais contra o Zimbábue, que restringem as trocas comerciais de bens e serviços, proíbem viagens de políticos considerados inimigos e suspendem políticas de cooperação e apoio entre governos.

Dentro do país, também houve reações – mesmo antes da reforma agrária. Ativistas políticos e setores da classe trabalhadora que haviam apoiado ou participado das lutas de libertação romperam com Mugabe e aram a integrar as fileiras da oposição a partir de 1995. O teor das acusações era semelhante ao de hoje: autoritarismo, corrupção, aparelhamento do Estado.

“Quando chega a pandemia [de covid-19], o conflito já está estruturado há 20 anos. Então, a oposição no Zimbábue inclui desde EUA, latifundiários contra a reforma agrária, até o próprio movimento sindical”, ressalta Yeros.

Embora o propósito da reforma agrária seja quase unanimidade entre os opositores – exceto pelos ex-latifundiários –, Mugabe é criticado por utilizar aquele processo para beneficiar aliados e veteranos das lutas de libertação.

Elvis Mugari defende uma auditoria das terras do país e uma retomada da distribuição de terras baseada no conceito “um homem, uma propriedade”. Segundo o opositor, o governo nunca combateu as novas formas de grilagem que se desenvolveram no Zimbábue desde os anos 2000.

Sanções

A economia do Zimbábue depende da mineração e da agricultura, principalmente do tabaco, do açúcar, do milho e do algodão. A adoção do dólar como moeda oficial, em 2009, reverteu a tendência de encolhimento do Produto Interno Bruto (PIB), mas não trouxe a estabilidade prometida.

O governo alega que as sanções encarecem as importações e restringem as exportações, devido às multas e proibições impostas por Estados Unidos e União Europeia.

Em 4 de março de 2020, quando a covid-19 começava a se espalhar pelo continente africano, Donald Trump renovou as sanções por tempo indeterminado. “O Zimbábue teve ampla oportunidade de estabilizar a África Austral e abrir as portas para uma maior cooperação com os EUA. Infelizmente, o governo de Emmerson Mnangagwa ainda não sinalizou vontade política para implementar essas reformas”, informou um comunicado da Casa Branca naquele dia.

Mugari explica que o fim das sanções não é uma das bandeiras centrais da oposição. Para o ativista, culpar as sanções pelos problemas socioeconômicos do país é tirar a responsabilidade do regime pela crise.

“A matança de manifestantes pelo exército em 2018, a repressão violenta aos protestos em 2019, o espancamento de manifestantes em agosto de 2019 e a contínua onda de sequestros, tortura de críticos do governo, líderes sindicais, membros da oposição mostram que as sanções devem ser intensificadas até que o regime se arrependa e e a respeitar o Estado de Direito”, afirma.

Contradições

Paris Yeros chama atenção para o não-alinhamento político e militar do Zimbábue com o Ocidente. “Após 2003, a região [África Austral], com exceção de Botswana e Tanzânia, fechou um acordo multilateral de defesa mútua. Por isso, está blindada, diferentemente do resto da África, onde há presença da OTAN [Organização do Tratado do Atlântico Norte], da CIA. São conquistas dos movimentos de libertação, que conseguiram consolidar esses ganhos na matéria de segurança”, ressalta.

“Existe, claro, repressão, prisão de jornalistas”, acrescenta o professor. “É claro que isso não é saudável ao espaço democrático, mas também acontece em outros países, como a própria África do Sul. Os assassinatos políticos, a corrupção, também”.

Ao analisar violações ao Estado de Direito, Yeros aponta que não haveria reforma agrária no Zimbábue sem a radicalização do Judiciário.

“Para fazer a reforma agrária, eles violaram a propriedade privada. E aí começa o debate em torno do Estado de Direito, porque o sistema de justiça defendia automaticamente a propriedade privada. Eles tiveram que aposentar juízes [contrários à reforma], reestruturar o sistema, mobilizar o exército para defender as ocupações”, ressalta.

O professor da UFABC ite dificuldade ao caracterizar o Estado no Zimbábue. “Há problemas conceituais que nos desafiam. Tivemos uma situação revolucionária. O partido tem uma estrutura leninista, que vem da guerrilha, mas ideologicamente é ‘pequeno burguês’, e pode ir do neoliberal até o radical”, explica.


Emmerson Mnangagwa, presidente do Zimbábue desde novembro de 2017 / Jekesai NJIKIZANA / AFP

“Houve um pacote neoliberal, de desindustrialização, entre 1990 e 1996. Em seguida, o país entra na rota de colisão com o FMI, e desde 2005 há uma série de tentativas de normalizar a relação com o Ocidente, incluindo a dolarização – ao mesmo tempo, com repressão interna e com limites à exploração de minérios por empresas estrangeiras”, completa Yeros.

“Há várias contradições. Os bancos nunca foram tomados, formou-se uma burguesia interna com interesses próprios, e cultivos agrícolas foram reinseridos em cadeias globais, na lógica das multinacionais”, exemplifica.

Perspectivas

Com 15 milhões de habitantes, o Zimbábue tem menos de 300 mortes confirmadas por covid-19, mas as consequências da pandemia são mais amplas.

Como 94% da força de trabalho está na informalidade, o governo não conseguiu garantir renda mínima para todos durante a quarentena. O auxílio mensal, equivalente a R$ 15, não chegou nem à metade das famílias pobres.

As dificuldades econômicas limitam a compra de testes, o que explica o baixo número de vítimas fatais – o país é apenas o 96º do ranking mundial de óbitos por covid-19. A falta de recursos também compromete a manutenção da estrutura dos hospitais e o pagamento de salário em dia aos servidores públicos.

“Hospitais foram fechados por falta de recursos, e médicos e enfermeiros estão em greve há mais de um ano”, ressalta o secretário geral da ZCTU, Japhet Moyo.

O dirigente acrescenta que o governo Mnangagwa utilizou medidas de contenção – necessárias contra o coronavírus –, desde 30 de março, como pretexto para aumentar a repressão: “O número de pessoas presas por violar a quarentena supera o número de testados para covid-19”, resume.

Desde que a quarentena foi flexibilizada, em 16 de maio, milhares de trabalhadores protestam nos locais de trabalho todas as segundas-feiras no intervalo do almoço. Eles pedem melhores salários e dizem que as respostas do governo à crise são insuficientes.

Elvis Mugari se diz cético sobre as possibilidades de resolução do conflito internamente. “O presidente já cultivou o medo em seus críticos, e a perspectiva de resistência a seu regime militar diminui a cada dia. A oposição e os trabalhadores contam apenas com a comunidade internacional para fazer ecoar a crise que estamos vivendo”, analisa o ativista exilado.

Para Moyo, sem a intervenção de blocos regionais como a União Africana e a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral, as eleições presidenciais de 2023 serão mera formalidade. “Com ajuda do exército, eles anunciarão a reeleição de Mnangagwa mesmo com derrota nas urnas”, prevê o sindicalista.

Editado por: Rodrigo Chagas
Ler em:
Inglês | Espanhol
Tags: conflitocriseprotestozimbábue
loader
BdF Newsletter
Escolha as listas que deseja *
BdF Editorial: Resumo semanal de notícias com viés editorial.
Ponto: Análises do Instituto Front, toda sexta.
WHIB: Notícias do Brasil em inglês, com visão popular.
Li e concordo com os termos de uso e política de privacidade.

Veja mais

RETROCESSO

Trump pode revogar proteção legal de mais de milhão de imigrantes nos EUA após decisão judicial

Justiça

PF mira prefeito de Palmas em operação sobre vazamentos no STJ

PARA TODO MUNDO

Agenda cultural: saiba a programação gratuita que movimenta João Pessoa neste final de semana

PELA PRIMEIRA VEZ

Coquetel Molotov Negócios acontece no Centro Histórico de João Pessoa de 30 de maio a 1° de junho

HISTÓRIAS INVISÍVEIS

Vidas Peregrinas: curta documental retrata experiência musical com pessoas em situação de rua

  • Quem Somos
  • Publicidade
  • Contato
  • Newsletters
  • Política de Privacidade
  • Política
  • Internacional
  • Direitos
  • Bem viver
  • Socioambiental
  • Opinião
  • Bahia
  • Ceará
  • Distrito Federal
  • Minas Gerais
  • Paraíba
  • Paraná
  • Pernambuco
  • Rio de Janeiro
  • Rio Grande do Sul

Todos os conteúdos de produção exclusiva e de autoria editorial do Brasil de Fato podem ser reproduzidos, desde que não sejam alterados e que se deem os devidos créditos.

Nenhum resultado
Ver todos os resultados
  • Apoie
  • TV BDF
  • Regionais
    • Bahia
    • Ceará
    • Distrito Federal
    • Minas Gerais
    • Paraíba
    • Paraná
    • Pernambuco
    • Rio de Janeiro
    • Rio Grande do Sul
  • Rádio Brasil De Fato
    • Radioagência
    • Podcasts
    • Seja Parceiro
    • Programação
  • Política
    • Eleições
  • Internacional
  • Direitos
    • Direitos Humanos
    • Mobilizações
  • Bem viver
    • Agroecologia
    • Cultura
  • Opinião
  • DOC BDF
  • Brasil
  • Cidades
  • Economia
  • Editorial
  • Educação
  • Entrevista
  • Especial
  • Esportes
  • Geral
  • Meio Ambiente
  • Privatização
  • Saúde
  • Segurança Pública
  • Socioambiental
  • Transporte
  • Correspondentes
    • Sahel
    • EUA
    • Venezuela
  • English
    • Brazil
    • BRICS
    • Climate
    • Culture
    • Interviews
    • Opinion
    • Politics
    • Struggles

Todos os conteúdos de produção exclusiva e de autoria editorial do Brasil de Fato podem ser reproduzidos, desde que não sejam alterados e que se deem os devidos créditos.