Na decisão que revogou a prisão de Marlon Brandon Coelho Couto da Silva, o MC Poze do Rodo, o desembargador Peterson Barroso Simão, da 5ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, criticou a forma como os agentes policiais atuaram no caso. O funkeiro foi algemado com as mãos para trás, sem camisa, e levado descalço para a delegacia.
Ele é acusado de apologia ao crime e envolvimento com o tráfico e foi preso preventivamente no último dia 29, em casa, no Recreio dos Bandeirantes, zona oeste do Rio, em uma operação da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) da Polícia Civil.
“Existem indícios que comprometem o procedimento regular da polícia. Pelo pouco que se sabe, o paciente teria sido algemado e tratado de forma desproporcional, com ampla exposição midiática, fato a ser apurado posteriormente”, escreveu o magistrado no despacho desta segunda-feira (2)
“O material arrecadado na busca e apreensão parece ser suficiente para o prosseguimento das investigações, sem a necessidade da manutenção da prisão, já que não há comprovação, por ora, de que ele estivesse com armamento, drogas ou algo ilícito em seu poder”, argumentou Simão.
O desembargador também afirmou que “a prisão temporária não é exatamente a solução almejada pela população, pois todos nós imaginamos como funciona a máquina criminosa do Comando Vermelho. É preciso prender os chefes, aqueles que pegam em armas e negociam drogas. O alvo da prisão não deve ser o mais fraco – o paciente, e sim os comandantes de facção temerosa, abusada e violenta, que corrompe, mata, rouba, pratica o tráfico, além de outros tipos penais em prejuízo das pessoas e da sociedade”.
Simão ainda citou o esquema fraudulento de descontos de benefícios do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) de cerca de nove milhões de aposentados e pensionistas que tiveram descontos, que está sendo investigado pela Polícia Federal (PF).
“Registre-se, na oportunidade, que aqueles que levam fortuna do INSS contra idosos ficam tranquilos por nada acontecer e, ao mesmo tempo, prende-se um jovem que trabalha cantando e ganhando seu pão de cada dia, podendo responder à investigação e processo criminal em liberdade. Tais extremos não combinam”, disse.
Por fim, o desembargador informou que MC Poze do Rodo já foi absolvido em primeira e segunda instâncias por outro processo criminal de conteúdo semelhante ao qual ele é investigado agora. Disse ainda que “a finalidade investigatória se consumou com a apreensão de bens e a prisão, neste momento, em nada engrandecerá o ato investigatório”
Apesar da revogação da prisão, Marlon Brandon precisa comparecer perante um juiz ou tribunal até o dia 10 de cada mês para informar e justificar suas atividades e não se ausentar da cidade do Rio de Janeiro até a análise do mérito do habeas corpus. O MC também deve permanecer à disposição da Justiça e informar meios de contato e não se comunicar com pessoas investigadas no inquérito, testemunhas e membros da facção criminosa Comando Vermelho.
Investigação contra esposa de MC Poze
Na manhã desta terça-feira (3), a esposa de MC Poze, a influenciadora Vivi Noronha, foi alvo de um mandado de busca da Polícia Civil do Rio de Janeiro contra lavagem de dinheiro da cúpula do Comando Vermelho.
A operação foi deflagrada após a morte do traficante Fhillip da Silva Gregório, o Professor, no último domingo (1º). De acordo com a investigação, ele operava o esquema que chegou a movimentar R$ 250 milhões.
De acordo com o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), foram identificados dois depósitos de supostos laranjas do traficante para as contas pessoal e empresarial de Vivi no valor total de quase R$ 1 milhão.
“Ela [Vivi] e sua empresa figuram como beneficiárias diretas de recursos oriundos da facção Comando Vermelho, recebidos por meio de pessoas interpostas (“laranjas”) com o objetivo de ocultar a origem ilícita do dinheiro”, afirmou a polícia.
“As análises financeiras apontam que valores provenientes do tráfico de drogas e de operadores da lavagem de capitais da facção foram canalizados para contas bancárias ligadas à mulher, que ou a ser um dos focos centrais do inquérito”, prosseguiu.
“A posição dela na estrutura criminosa é simbólica, pois representa o elo entre o tráfico e o universo do consumo digital, conferindo aparente legitimidade a valores oriundos do crime organizado e ampliando o alcance da narcocultura nas redes sociais.”
Os policiais civis das delegacias de Roubos e Furtos (DRF) e de Repressão a Entorpecentes (DRE) e do Departamento-Geral de Combate à Corrupção, ao Crime Organizado e à Lavagem de Dinheiro (DGCOR-LD) cumpriram mandados de busca em endereços no Rio de Janeiro e em São Paulo. A Justiça também ordenou o bloqueio e indisponibilidade de bens e valores de 35 contas bancárias.