“A indústria cinematográfica, o cinema, as pessoas que fazem cinema, ainda são homens brancos, e isso fala muito da estrutura do nosso país, do racismo estrutural, da violência de gênero, do machismo que existe na fundação da nossa cultura.” A reflexão é da diretora artística Naymare Azevedo, idealizadora da Mostra Ayabá – Mulheres no Cinema Brasileiro, que ocupa até este domingo (25) a Caixa Cultural do Rio de Janeiro com uma programação inteiramente dedicada à valorização de cineastas mulheres, sobretudo as que foram invisibilizadas ao longo da história do audiovisual brasileiro.
Em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, ela afirma que o cinema ainda é uma indústria cara, que exige equipe, equipamento, formação e estrutura. “Isso acaba sendo inível para a maior parte da população, e isso inclui as mulheres. Temos mudado esses dados criando projetos, ando políticas públicas, mas ainda é um processo, uma construção. Por isso que projetos como a Mostra Ayabá se tornam importantes, porque além de um espaço de formação de público, é uma janela para esses filmes”, explica.
A mostra nasceu da trajetória de Azevedo como diretora e produtora cultural e da vontade de construir um espaço de diálogo entre mulheres diversas. “Eu sempre vi mostras de cinema feminino, mas nunca tinha visto uma mostra proposta por uma mulher negra para dialogar com as mulheres”, conta. “A ideia era propor um projeto onde falássemos com essa diversidade de culturas, de pensamentos, e que se permitisse deslocar os lugares entre mulheres negras, indígenas, brancas.”
Realizada em parceria com a Caixa Cultural, a programação reúne filmes de veteranas como Adélia Sampaio, Tereza Trautman, Ana Carolina, Vera de Figueiredo, Helena Solberg e Antônia Ágape, que filmou em Super 8 nos anos 1980 e teve seu filme engavetado por mais de 40 anos, além de novas vozes do cinema feito por mulheres. “Acho que nenhum projeto tinha reunido todas essas mulheres de uma vez só. Elas estão muito emocionadas, muito gratas por ter essa jornada reconhecida”, diz a realizadora.
A iniciativa também aposta na formação, com oficinas de roteiro e curadoria em cinema conduzidas por nomes como Janaína Oliveira. Ao longo da mostra, o público pode conferir produções históricas como Os Homens que Eu Tive, censurado durante a ditadura militar, e Carmen Miranda: Bananas is My Business, da cineasta Helena Solberg, que terá uma sessão seguida de debate neste domingo (25). A entrada é gratuita, e a programação é atualizada diariamente no Instagram da Mostra Ayabá.
Para ouvir e assistir
O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira, uma às 9h e outra às 17h, na Rádio Brasil de Fato, 98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.