Às vésperas da Páscoa, comemorada no próximo domingo (20), a alta histórica no preço do cacau pressiona o setor de chocolates em todo o mundo, e afeta com mais força quem trabalha de forma artesanal no Brasil. É o caso da chocolate maker Priscila França, que comanda uma premiada produção na Zona Sul de São Paulo.
“Temos aumento tanto no cacau quanto nos derivados. E a grande questão é que o cacau é uma commodity internacional, cotada em bolsa. Mesmo com a maior parte da crise ocorrendo na África, isso nos impacta diretamente”, explica Priscila, em entrevista ao Conexão BdF, do Brasil de Fato. “No Brasil, também temos enfrentado redução da produção anual e os aumentos [de preços] têm sido vertiginosos.”
Países como Costa do Marfim e Gana, principais exportadores mundiais, sofrem com pragas, envelhecimento das plantações e impactos das mudanças climáticas, como o calor extremo e o El Niño. O vírus do broto inchado do cacau já atinge 81% das plantações ganesas, de acordo com um relatório da Organização Internacional do Cacau. Com menos cacau no mercado, o preço da amêndoa disparou e chegou a ultraar o valor do cobre no mercado internacional.
Enquanto as grandes indústrias conseguem se proteger com contratos futuros (ou seja, ainda pagam valores mais baratos), os pequenos produtores, como França, são impactados no momento da crise. “A gente sente na mesma hora, então tivemos que encontrar alternativas. Pela primeira vez, fizemos ovos recheados para usar menos chocolate. Também investimos em embalagens de algodão e papel de fibra de algodão, com o tema ‘florescer em meio ao caos’, tentando trazer leveza mesmo com tantos aumentos.”
Com vendas presenciais e online, a marca Priscyla França Chocolates é reconhecida pela produção artesanal e recebeu o prêmio CNA de melhor chocolate do Brasil em 2021. Ainda assim, para manter as vendas nesta Páscoa, “foi preciso reduzir a margem de lucro”, diz a chocolatier, que compara seu ofício ao de um enólogo: “Somos responsáveis por produzir o chocolate e transmitir as notas sensoriais para o cliente”.
O preço da barra de chocolate no Brasil fechou o mês de março, que antecede o da Páscoa deste ano, com alta de 22,7% — o maior aumento acumulado em 12 meses já registrado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo a Associação Brasileira de Supermercados, os preços dos ovos de Páscoa estão, em média, 14% mais caros que no ano ado. A expectativa é de queda de 20% na produção nacional de ovos de chocolate neste ano.
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