Nesta sexta-feira (30) ocorreu a primeira reunião preparatória para a COP do Povo, evento paralelo à COP30, em novembro de 2025, em Belém (PA). Organizada pelo Instituto Zé Claudio e Maria (IZM), com apoio da ONG Global Witness, o evento reuniu na capital paraense lideranças de comunidades tradicionais, incluindo indígenas, ribeirinhos, quilombolas, extrativistas, entre outras, para discutir estratégias para colocar os povos da Amazônia no centro das discussões sobre o clima.
"A COP30 está sendo organizada sem a participação de quem mantém a floresta em pé. Então, se é para estarmos em Belém ano que vem, que estejamos onde somos bem recebidos. Pois o que chega no nosso território é que a COP30 está vindo aí, mas não existe espaço para nós e não existe futuro sem povo da floresta", disse a jovem Ludmilla Carvalho da Comissão Pastoral da Terra (T), liderança quilombola do Quilombo Dona Juscelina, do município de Muricilândia (TO).
Para Alessandra Korap, liderança do povo Munduruku e coordenadora da Associação Indígena Pariri, a organização da Cúpula da Amazônia, realizada em agosto de 2023, foi um exemplo de como as populações serão tratadas durante a COP30. "Ano ado a gente viu um evento fechado, onde não participamos das discussões, além de muita polícia travando nossas manifestações. Ninguém teve voz. Por isso, precisamos começar a agir agora. Vamos para os territórios, informar aos nossos parentes o que é a COP, crédito de carbono, para que ninguém seja enganado nas negociações com empresas e governos", declarou a vencedora do Prêmio Ambiental Goldman, também conhecido como "Nobel Verde".
Inglês para os povos
Entre as medidas propostas como encaminhamento para a COP do Povo, está o investimento em curso de idiomas para jovens das comunidades tradicionais. Para Neidinha Suruí, indigenista de Rondônia e fundadora da Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé, isso é essencial para garantir que as vozes da Amazônia sejam ouvidas na COP30.
"Vamos mapear nossos parentes que falam inglês ou espanhol. Precisamos levar indígenas, quilombolas, extrativistas e ribeirinhos bilíngues para esse e outros grandes eventos. Não podemos apenas chegar nesses lugares e lamentar e retratar a perseguição que sofremos. Mas sim denunciar, mas vamos também nos fortalecer, montar propostas e nos fazer ser ouvidos na COP. Quando a gente chega com o inglês, fica mais difícil de deixar alguém mentir sobre a realidade do Brasil, da Amazônia e de nossas terras", defendeu Neidinha.
Críticas ao governo Barbalho
A atuação do governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), enquanto protagonista da temática climática na região foi alvo de críticas durante as discussões. Para Claudelice Santos, coordenadora da COP do Povo e presidente do IZM, existe uma incoerência entre o discurso e a ação do político mdbista.
"Estamos observando uma avalanche de discursos que se dizem em prol da floresta, mas não a de um discurso fantasioso de sociobiodiversidade, capitalismo verde. Uma verdadeira maquiagem de responsabilidade social e ambiental de um governo que legitima ações de empresas, fazendeiros, grileiros, para continuar ando a boiada. Enquanto ouvimos que o Pará combate desmatamento, vemos o Estado organizar uma COP sem a participação de quem mais luta contra a derrubada de floresta. Por isso, precisamos nos mobilizar. Este é o momento para construirmos um encontro inclusivo e contemplar efetivamente as vozes que precisam ser escutadas para garantir o futuro do planeta", afirmou a ativista.
O consultor de projetos da Coordenação das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombo do Pará (Malungu), Raimundo Magno Nascimento, declarou que "ao contrário do que o governador Helder Barbalho fala, a COP não está sendo organizada por nós e para nós".
"Já chega de querer premiar quem mantém a floresta em pé com editais. Não queremos floresta em pé, mas sim, floresta viva. Pois existe floresta em pé e floresta morta, a exemplo da floresta submersa pela barragem da Usina Hidrelétrica de Belo Monte em Altamira (PA). E mais que árvores. Ali foram afogadas histórias e tradições dos povos indígenas. Então por que não se comprometer em manter a floresta viva?", contestou.
Investimento para COP30
Em maio deste ano, Helder Barbalho declarou que Belém está recebendo um investimento de cerca de R$ 5 bilhões em infraestrutura para a realização da COP30. Desse total, R$ 3 bilhões serão executados este ano e até R$ 2 bilhões em 2025. "De todo esse valor, quanto vai ficar para investir nas comunidades que cuidam de fato da floresta? Quanto vai ser para beneficiar a Amazônia?", questionou Raimundo Magno.
"Deveríamos ter investimentos em quem realmente protege a floresta, tendo como base o Fórum Mundial Social, que ou aqui em 2009 e não deixou nada. E agora, a Estação das Docas vai receber um pedaço de Paris e virar o point da cidade, em um bairro elitizado, em que depois, nem vamos poder usufruir porque não cabe no nosso bolso. Belém merece investimentos? Sim, mas não é só os ônibus elétricos e com ar condicionado para a população pobre. Belém precisa ter suas ilhas cuidadas e preservadas, precisa ser exemplo de sustentabilidade e ter de fato um espaço de tratamento de resíduo sólido e acabar de vez com os lixões que de aterros sanitários não tem nada", finalizou.