Dois dias após o fim das eleições para o Parlamento Europeu, das quais a direita saiu triunfante com vitórias significativas e a extrema direita registrou avanço significativo em países como França, Alemanha e Itália, as grandes reviravoltas sofridas pelos partidos no poder a nível nacional abalaram os governos de toda a União Europeia, incluindo o da Bélgica, onde o primeiro-ministro Alexander De Croo renunciou após os resultados de domingo.
Os partidos de direita Nova Aliança Flamenga (N-VA) e Vlaams Belang obtiveram, cada um, cerca de 14% dos votos, garantindo três lugares no Parlamento Europeu.
O partido liberal Renew, o conservador Partido Popular Europeu (PPE) e o social-democrata Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas (S&D) obtiveram, cada um, quatro deputados europeus na Bélgica. Os partidos verdes obtiveram dois lugares, enquanto o Partido dos Trabalhadores da Bélgica (PTB-PVDA), sozinho, conseguiu também dois lugares.
Além de Marc Botenga, eurodeputado desde 2019, o PTB-PVDA será agora representado por Rudi Kennes, um sindicalista que trabalhou na fábrica da Opel em Antuérpia e se classifica como um antifascista convicto.
No período que antecedeu as eleições, Botenga foi um dos poucos eurodeputados a manifestar-se contra os planos da UE para um novo ciclo de políticas de austeridade e o seu apoio aos belicistas.
"O PTB-PVDA é um dos maiores vencedores desta eleição. Estamos muito satisfeitos por enviar um trabalhador para o Parlamento Europeu", disse Raoul Hedebouw, presidente do PTB-PVDA, na noite da eleição. "Ainda mais do que nos parlamentos nacionais e regionais, a composição da nossa população [a classe trabalhadora] está sub-representada no PE."
O PTB-PVDA teve um aumento substancial de votos em todas as eleições, ando de 566 mil na última eleição para 763 mil no domingo. Com esse resultado, o partido se tornou a quarta maior agremiação política do país, com 15 cadeiras no parlamento federal.
O partido também teve um bom desempenho nas sondagens regionais, aumentando significativamente a sua cota de votos e os seus lugares nos parlamentos de Bruxelas e de Flandres. O parlamento da Valónia foi a exceção, onde perdeu dois lugares.
O êxito do PTB-PVDA vai além das eleições para o Parlamento Europeu: as eleições na Bélgica foram organizadas paralelamente às eleições regionais e nacionais e registaram uma taxa de participação próxima dos 90%, a mais elevada da Europa desta vez.
O programa eleitoral do partido para as eleições europeias baseou-se na defesa de mais investimento em serviços públicos, incluindo transportes, um imposto milionário a nível nacional e da UE e novas formas de solidariedade, como a criação de um instituto público para manter a saúde fora do alcance das empresas privadas.
O PTB-PVDA tem também manifestado o seu apoio à libertação da Palestina, incluindo-a no seu programa. "Exigimos o reconhecimento imediato e incondicional da Palestina. Defendemos o direito do povo palestiniano à autodeterminação", declararam.
"O nosso resultado de ontem [domingo] não surgiu do nada. Começamos a construir este processo há 15 anos", afirmou Peter Mertens em conferência de imprensa com os companheiros de partido Hedebouw, Sofie Merckx, e Jos D'Haese.
Secretário-geral do Partido dos Trabalhadores da Bélgica (PTB), Mertens conversou com o Brasil de Fato em outubro de 2023. Na entrevista, Mertens abordou a disparidade de classes sociais entre trabalhadores e capitalistas cada vez mais maior na Europa.
"Se quisermos inspirar novos trabalhadores, jovens trabalhadores, a classe trabalhadora tal como ela é, temos de enfrentar as necessidades de hoje. A classe trabalhadora de hoje não é a mesma de 50 anos atrás. É um outro formato. Há mais uberização, mais jovens. Precisamos nos organizar novamente", afirmou, na ocasião, o dirigente partidário.
Confira entrevista completa com Perter Mertens
*Com Peoples Dispatch
