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LITERATURA

Artigo | “O elogio ao egoísmo”: a redescoberta de “Memórias Póstumas de Brás Cubas” nas redes sociais

Livro adapta-se perfeitamente aos tempos atuais devido à sua ironia e sarcasmo que encontra boa aceitação na internet

24.maio.2024 às 18h57
Rio de Janeiro (RJ
Cláudio Soares

Inicialmente, "Memórias Póstumas de Brás Cubas" foi publicado em folhetim, na Revista Brasileira, entre março e dezembro de 1880 e apenas em 1881 virou livro - Foto: Reprodução

Ao longo desta semana, “Memórias Póstumas de Brás Cubas” viralizou nas redes sociais graças a americana Courtney Henning Novak. Tiktoker, escritora e podcaster, Courtney declarou no TikTok: “Por que ninguém me avisou que esse é o melhor livro já escrito?” Participando do projeto #ReadAroundTheWorld, que propõe a leitura de um livro de cada país em ordem alfabética, Novak escolheu a obra de Machado de Assis para representar o Brasil, reacendendo o interesse pelo clássico e atraindo novos leitores. O vídeo de Courtney extrapolou os limites das redes sociais e foi parar nos principais veículos da imprensa brasileira. Além disso, a edição em inglês de “Memórias Póstumas de Brás Cubas” já lidera a lista de mais vendidos na categoria “Literatura Latino-Americana e Caribenha” na Amazon dos Estados Unidos, superando obras de outros renomados autores da região.

Se pararmos para pensar, isso faz todo o sentido. “Memórias Póstumas de Brás Cubas” é um livro que se adapta perfeitamente aos tempos atuais devido à sua ironia e sarcasmo, ressoando bem com o humor presente nas plataformas digitais. Se por um lado, a estrutura fragmentada do livro, com capítulos curtos e independentes, se encaixa perfeitamente no formato de consumo rápido e disperso comum nas mídias sociais, por outro, os temas universais e atemporais, como a futilidade da vida e a hipocrisia social, continuam a ser relevantes e estimulam debates e reflexões entre os usuários, aumentando o engajamento on-line.

Reconhecimento internacional e influência literária

De tempos em tempos, desde a década de 1950 (um pouco antes, na verdade), Machado de Assis é redescoberto pelos EUA e recebe atenção quase reverencial de grandes nomes da literatura e crítica de língua inglesa, como Maya Angelou, que em uma entrevista de 1988 confessou que decidiu ser escritora depois de ler Machado, Langston Hughes, “o decano dos poetas afro-americanos”, Susan Sontag, Harold Bloom, Philip Roth e o britânico Salman Rushdie, que em seu livro recém-lançado “Knife” (“Faca”) – um relato dramático do atentado que sofreu em 12 de agosto de 2022, que quase lhe custou a vida –, com um misto de melancolia e alívio, diz: “No excelente romance brasileiro de Machado de Assis, ‘Memórias Póstumas de Brás Cubas’, o herói do título confidencia que está contando sua história além-túmulo. Ele não explica como, e esse truque eu ainda não aprendi.”

Brás Cubas, sendo um defunto autor, narra sua história de um ponto de vista arbitrário e super-realista, com um tom de ironia e sarcasmo. “Evito contar o processo extraordinário que empreguei na composição destas 'Memórias', trabalhadas cá no outro mundo. Seria curioso, mas nimiamente extenso, e aliás desnecessário ao entendimento da obra”, diz Brás Cubas no “Prólogo ao leitor”, que abre o romance.

Como o escritor Augusto Meyer observou em um famoso artigo intitulado “De Machadinho a Brás Cubas”, de 1958, Machado de Assis conseguiu criar uma obra digna do seu gênio ao enfrentar seus demônios e abandonar sua zona de conforto.

Revolução literária de Machado de Assis

Em 1878, Machado de Assis iniciou um fenômeno novo e revolucionário em sua obra. A ficção deixou de ser uma coisa objetiva e completa, transformando-se em matéria orgânica, instável e arriscada, inscrita na própria temporalidade do autor. Esse desafio às convenções literárias começou com “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, o primeiro grande romance brasileiro, uma verdadeira esfinge de 160 capítulos, que apareceram em livro no dia 11 de janeiro de 1881, uma terça-feira. Antes, o romance foi publicado em folhetim, na Revista Brasileira, entre março e dezembro de 1880. Entre o texto da revista e o publicado em livro, houve várias alterações. O total de capítulos, por exemplo, foi reduzido de 163 para 160, devido à supressão de dois capítulos e à incorporação de um outro a um terceiro.

A epígrafe original do folhetim, extraída da peça “As You Like It”, de Shakespeare, e traduzida por Machado (“Não é meu intento criticar nenhum fôlego vivo, mas a mim somente, em que descobri muitos senões”), foi substituída, em livro, pela famosa dedicatória “Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico com saudosa lembrança estas 'Memórias Póstumas'”. 

A publicação das “Memórias Póstumas de Brás Cubas” é simultânea à fase mais atormentada da vida de Machado de Assis. Ao crítico literário Nestor Vitor, que, buscando uma explicação para a mudança drástica na escrita das “Memórias Póstumas”, comparando o romance aos livros anteriores do escritor, perguntou-lhe o motivo da mudança, Machado respondeu: “Não sei, mas talvez viesse de o Brás Cubas, em grande parte, não ter sido escrito, mas ditado à minha mulher. Foi ditado porque eu estava quase cego. Atacara-me uma moléstia dos olhos, que só depois de muito trabalho se foi”. Esse quadro excepcional pode explicar o pessimismo e o tom mórbido da obra, escrita “com a pena da galhofa e a tinta da melancolia”.

Críticas e reflexões contemporâneas

Machado de Assis é um daqueles raros escritores sobre quem, mesmo quando tudo já parece ter sido escrito, de repente, surgem novas e curiosas revelações. “As Memórias Póstumas de Brás Cubas” são, em essência, o livro de um moralista, e nisso está uma outra linha de originalidade da obra. O narrador não se contenta com o relato dos episódios, sublinha-os com seus comentários cáusticos. O “ironista” se insinua na pena do moralista. “Memórias Póstumas de Brás Cubas” foi descrito, em uma das poucas resenhas publicadas na época de seu lançamento, como um livro de “filosofia mundana disfarçado de romance”. Segundo Urbano Duarte, o resenhista, o livro carecia de um enredo sólido para ser considerado um romance tradicional e poderia, sem muita impropriedade, ser intitulado “O Elogio do Egoísmo”.

Entre as máximas que Machado de Assis definiu como “bocejos de enfado” e que ofereceu aos leitores para servirem de “epígrafe a discursos sem assunto”, no capítulo 119, há uma sobre a cólica do próximo: “a-se com paciência a cólica do próximo”. Essa máxima, Machado foi buscar no acervo do escritor François de La Rochefoucauld, com uma pequena distorção. Escreveu o francês: “Nous avons tous assez de force pour er les maux d’autri”, em tradução livre, “Todos temos força suficiente para ar os males dos outros”.

Recepção inicial e posteridade das “Memórias”

Quando surgiu, não há exagero em dizer que o romance ou quase despercebido. “O Mulato”, de Aluísio Azevedo, que iniciou o Naturalismo no Brasil, há muito esperado e desejado, surgiu com repercussão bem mais ampla no mesmo ano da edição em volume das “Memórias Póstumas”. Não se negou, todavia, o valor do livro de Machado. O professor Galante de Sousa registrou em seu livro “Fontes para o estudo de Machado de Assis”, que no ano de seu aparecimento em livro, “Memórias Póstumas” mereceu apenas três críticas publicadas na imprensa (ou pouco mais que isso). Já “O Mulato”, recebeu “mais de cem artigos”, como o próprio autor, Aluísio Azevedo, explicou no prefácio da segunda edição do seu romance.

Em grande parte, essa dificuldade deveu-se à incerteza em classificar a obra como um romance, como evidenciado pela dúvida de Capistrano de Abreu: “As 'Memórias Póstumas de Brás Cubas' são um romance?” – uma questão que o próprio Machado reproduz no prólogo da terceira edição e responde não respondendo: “romance para uns e não para outros”. A dúvida legítima surge quando Capistrano se depara com os recursos pouco usuais utilizados por Machado ao longo da obra, como a incorporação de pequenas narrativas, ou anedotas, que até poderiam ter “vida própria”, mas que o autor insere nos intervalos da narração. O crítico e jornalista Modesto Abreu apontou que, ao adotar “a forma livre de um Sterne ou de um Xavier de Maistre”, metendo “algumas rabugens de pessimismo” em quem se decidira a escrever “com a pena da galhofa e a tinta da melancolia” e contentando-se — mais modesto que Stendhal — em ter “dez ou talvez cinco leitores”, realizou Brás Cubas — pela mão de Machado de Assis, claro —, uma das obras mais improváveis, provocadoras e fascinantes da literatura brasileira.

Influência duradoura de Brás Cubas

O homem que escreveu, posteriormente, “Quincas Borba”, “Dom Casmurro”, “Esaú e Jacó” e “Memorial de Aires”, jamais conseguiria se libertar do sósia amargo e espectro “desabusado” que lhe havia escrito “Memórias Póstumas de Brás Cubas”. Sempre se debruçaria sobre o ombro do escritor para lhe soprar ao ouvido uma frase, trechos ou capítulos inteiros, em que logo se reconhecem o ceticismo, a melancolia e a galhofa. Brás Cubas é uma “personagem-máscara” ideal para se levantar a questão das relações que existem entre a autobiografia e o romance.

Em “Memórias Póstumas”, Machado choca seu público habitual com o abandono da narrativa cronológica, linear, desvalorizando a intriga. A continuidade a a ser centrada na identidade do narrador, que serve como elemento de unificação de episódios e personagens, a partir de vários artifícios narrativos, como referências diretas ao leitor, observações críticas sobre o texto, confronto de capítulos ou motivos por meio de constantes alusões e alternância de tempos.

ados mais de 140 anos desde seu lançamento, o livro escrito por um “defunto autor” continua a atrair a atenção da crítica e de novos leitores, tanto brasileiros quanto estrangeiros. “Memórias Póstumas de Brás Cubas” adverte contra o inócuo, o ageiro e o evasivo, sendo considerado o primeiro romance verdadeiramente moderno da literatura brasileira. O sorriso irônico de Brás Cubas, tal qual o sorriso do Gato de Cheshire, continua a nos assombrar mesmo tantos anos depois.

*Cláudio Soares é editor, escritor e jornalista. Atualmente, está escrevendo a biografia de Machado de Assis.
 

Editado por: Jaqueline Deister
Tags: literaturamachado de assis
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