“Ô Josué eu nunca vi tamanha desgraça, quanto mais miséria tem, mais urubu ameaça.” Chico Science
De óculos escuros e chapéu de palha, o mangueboy Francisco de Assis França, fez um movimento para o “caranguejo” de Josué de Castro e para “o bicho” de Manoel Bandeira. O bicho que não era um cão, não era um gato e não era um rato. Era um caranguejo que até hoje faz um ruído social vindo da lama.
Em um estudo, do Instituto de Cidades Sustentáveis, no nordeste, Recife lidera como a cidade com o maior índice de desigualdade social do país. Também é a segunda capital, do nordeste com a maior taxa de mortalidade por covid-19. A taxa de mortalidade da capital pernambucana é quase o triplo da nacional. Recente levantamento feito a partir de dados disponibilizados pelas Secretarias Municipais de Saúde.
Ao mesmo tempo, em meio a uma das mais graves crises econômicas mundiais da história do mundo, os bilionários brasileiros não têm com o que se preocupar, seus patrimônios aumentaram durante a pandemia do coronavírus. Os super-ricos no Brasil que já lideram na concentração de renda global, com a pandemia, aumentaram suas fortunas.
Josué de Castro, um médico pernambucano, embaixador do Brasil na ONU – Organização das Nações Unidas, “o subversivo” diante do Departamento de Ordem Política e Social, (DOPS), pela sua luta contra a fome e a necessidade da reforma agrária, estudou a Geografia da Fome e escreveu o Ciclo do Caranguejo. Castro, cidadão do mundo, evidenciou que o drama da fome estava ligado a má distribuição das riquezas, concentradas cada vez mais nas mãos de menos pessoas. Praga originada pelo processo de colonização, criada pelos próprios homens. Uma sociedade de esfomeados históricos. Homens e Caranguejos. Homens que catam caranguejo para sobreviver e os caranguejos que se nutrem dos dejetos dos homens.
*Yanne Teles é Advogada; Conselheira Estadual da OAB/PE; Membro da Comissão Nacional de Direitos Humanos, OAB, Conselho Federal e Integrante da Executiva da Associação Brasileira pela Democracia – ABJD.
